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Copom surpreende e corta Selic em 0,75 ponto, para 3% ao ano

Dois membros defenderam corte maior, mas risco fiscal pesou mais

O Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu ontem fazer um corte na taxa básica de juros maior do que o esperado, de 0,75 ponto percentual. Assim, a Selic caiu de 3,75% para 3% ao ano. O colegiado do Banco Central (BC) sinalizou que pode promover uma nova queda da mesma magnitude na próxima reunião, em junho. Os membros do colegiado ficaram divididos, com dois integrantes defendendo um corte imediato ainda maior, mas prevaleceu a visão de que seria mais apropriada uma queda menor, em função das incertezas fiscais domésticas.

“Considerando o cenário básico, o balanço de riscos e o amplo conjunto de informações disponíveis, o Copom decidiu, por unanimidade, reduzir a taxa básica de juros em 0,75 ponto percentual”, disse o colegiado em comunicado. “Para a próxima reunião, condicional ao cenário fiscal e à conjuntura econômica, o comitê considera um último ajuste, não maior do que o atual, para complementar o grau de estímulo necessário como reação às consequências econômicas da pandemia”, acrescentou.

O BC destacou, no entanto, que o balanço de riscos tem atualmente “uma variância maior do que a usual”. Ou seja: as incertezas elevadas podem mudar o cenário para inflação e juros. Por isso, afirmou que “novas informações sobre os efeitos da pandemia, assim como uma diminuição das incertezas no âmbito fiscal, serão essenciais para definir seus próximos passos”.

Para a autoridade monetária, a gravidade da crise “prescreve estímulo monetário extraordinariamente elevado”, embora uma possível piora do quadro fiscal possa limitar o tamanho do novo corte. “A trajetória fiscal ao longo do próximo ano, assim como a percepção sobre sua sustentabilidade, serão decisivas para determinar o prolongamento do estímulo”, disse.

Dois dos oito membros que participaram da reunião disseram que poderia ser oportuno realizar os cortes da reunião de ontem e da próxima de uma única vez. “Mesmo com a possibilidade de elevação da taxa de juros estrutural [que permite o máximo de crescimento da atividade sem gerar pressões inflacionárias], poderia ser oportuno prover todo o estímulo necessário de imediato, em conjunto com a sinalização de manutenção da taxa básica de juros pelos próximos meses.”

Mas prevaleceu a avaliação de que “o espaço remanescente para utilização da política monetária é incerto e pode ser pequeno”, em função da conjuntura de elevada incerteza doméstica. “O Copom optou por uma provisão de estímulo mais moderada, com o benefício de acumular mais informação até sua próxima reunião.”

Embora o balanço de riscos continue com argumentos para ambas as direções, o Copom destacou que uma “poupança precaucional” pode exercer pressão para baixo na trajetória de inflação. Em sentido oposto, o colegiado mais uma vez chamou a atenção para o risco de deterioração da situação fiscal.

“O nível de ociosidade pode produzir trajetória de inflação abaixo do esperado”, disse, acrescentando que ele “se intensifica caso a pandemia provoque aumentos de incerteza e de poupança precaucional”. Isso, por sua vez, poderia levar a uma redução da demanda mais longa e intensa do que o esperado.

“Por outro lado, políticas fiscais de resposta à pandemia que piorem a trajetória fiscal do país de forma prolongada, ou frustrações em relação à continuidade das reformas, podem elevar os prêmios de risco e gerar uma trajetória para a inflação acima do projetado”, disse.

Apesar de os dados até março mostrarem impactos parciais da pandemia sobre a atividade, indicadores referentes a abril apontam que o recuo na atividade “será significativamente superior” ao que foi calculado na reunião anterior.

O BC também mudou a avaliação a respeito dos núcleos de inflação, mais sensíveis à atividade e à política monetária. Antes, diversas dessas medidas estavam em níveis “compatíveis” com o cumprimento da meta de 3,75% para 2021, considerado o horizonte relevante para a autoridade monetária. Agora, estão “abaixo dos níveis compatíveis”.

Projeção condicional do Copom também mostra inflação abaixo da meta para o ano que vem. Em um cenário híbrido, com trajetória para a taxa de juros extraída da pesquisa Focus, a inflação terminaria o ano que vem em 3,4% — abaixo, portanto, da meta. Essa projeção supõe que a Selic terminará 2020 em 2,75% ao ano e 2021 em 3,75% ao ano. Além disso, estabelece que o preço do barril de petróleo Brent subirá 40% até o fim de 2020.

No cenário externo, por sua vez, a avaliação é de que o quadro segue “desafiador”, mesmo com a adoção de estímulos monetários e fiscais em países desenvolvidos. Segundo o BC, houve moderação na volatilidade dos ativos financeiros, mas a saída de capitais “está significativamente superior à de episódios anteriores”.

O encontro não contou com a presença do diretor de organização do sistema financeiro e resolução do BC, João Manoel Pinho de Mello, suspeito de estar infectado com a covid-19. Todos os membros do Copom foram testados para a doença na semana passada. No caso de Pinho de Mello, um primeiro teste deu positivo e um segundo, negativo.

“Considerando os resultados díspares, a área de gestão do BC recomendou um terceiro exame para contraprova”, disse a autoridade monetária. Mas, por falta de tempo, ele não realizou o terceiro exame e, assim, preferiu não participar das sessões presenciais. “O diretor João Manoel Pinho de Mello segue gozando de boa saúde, assintomático, e desempenhando normalmente suas funções de maneira remota”, ressaltou o BC. O Copom volta a se reunir nos dias 16 e 17 de junho.

This post was published on maio 8, 2020 4:47 pm

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